domingo, 7 de agosto de 2011

Hulk


terça-feira, 19 de julho de 2011

Dor de Garganta / Faringite / Amidalite

A dor de garganta é uma dos sintomas mais comuns da prática médica, surgindo geralmente por um quadro de faringite e/ou amigdalite.  Neste texto vamos explicar as causas, sintomas e tratamento da dor de garganta.

Após a conclusão deste texto, não deixe de ler: DOR DE GARGANTA | Perguntas mais comuns

Faringite é o termo dado a inflamação da faringe, enquanto que, amigdalite é a inflamação das amígdalas. Ambas se manifestam como dor de garganta e como normalmente ocorrem simultaneamente, denominamos esse quadro como faringoamigdalite. Apesar de inflamarem juntas, algumas pessoas tem predominantemente amigdalite, enquanto outras, faringites. Ao longo do texto vou alternar os termos faringite e amigdalite, mas o que vale para uma, também serve para a outra.

Antes de continuarmos, estudem o desenho abaixo para saberem de que estruturas vou falar a seguir. Todas elas podem ser vistas ao abrirmos a boca em frente a um espelho.

Faringite - Anatomia da orofaringe
Orofaringe

A faringoamigdalite ou dor de garganta, pode ser causada por infecções bacterianas ou virais. A maioria dos casos é de origem viral, causada por vários tipos diferentes de vírus. A presença de dor de garganta é inclusive um dos critérios para se diferenciar gripe de resfriado (leia: DIFERENÇAS ENTRE GRIPE E RESFRIADO).

As faringites virais são processos benignos que se resolvem espontaneamente, ao contrário das faringites ou amigdalites bacterianas que devem ser tratadas com antibióticos e podem levar a complicações como abscessos e febre reumática (explico adiante).

Swab - amigdalite
Swab das amígdalas

Então como distinguir uma amigdalite viral de uma bacteriana?

O modo mais correto é através da coleta de material da garganta por swab ou Zaragatoa, uma vareta com algodão na ponta, onde se colhe material da área inflamada para avaliação laboratorial.

O problema do swab é que a identificação do agente infeccioso demora pelo menos 48h. Já existem testes mais rápidos para se identificar bactérias, mas nem sempre há facilidade para se colher e enviar o material para análise. Deste modo, é importante a avaliação clínica para se iniciar tratamento o mais rápido possível.

Sintomas da faringite | Sintomas da amigdalite

Os sintomas da amigdalites/faringite são:

- Dor de garganta
- Febre
- Dores pelo corpo
- Dor de cabeça
- Prostração

Todos os sintomas acima são comuns às infecções virais e bacterianas. Porém, alguns outros podem indicar se o patógeno é de origem viral ou bacteriana.

Normalmente as faringites virais são acompanhadas de outros sinais de infecção respiratória alta, como tosse, espirros, constipação nasal, conjuntivite e rouquidão.

Já as amigdalites bacterianas, além de não causarem os sintomas descritos acima, costumam apresentar pontos de pus nas amígdalas e aumento dos linfonodos do pescoço (ínguas). A febre da infecção bacteriana costuma ser mais alta, mas isso não é uma regra. A faringite bacteriana também pode causar edema da úvula e petéquias no palato (pontos hemorrágicos).

Faringite viral
Faringite viral - Inflamação sem edema de úvula, sem pus ou petéquias.

Amigdalite bacteriana - Reparem nos pontos de pus nas amígdalas e no inchaço da úvula

Faringite / amigdalite bacteriana
Amigdalite bacteriana - petéquias no palato

A presença de pus e linfonodos aumentados fala fortemente a favor de uma faringite bacteriana, porém, pode ocorrer em algumas infecções virais, nomeadamente na mononucleose infecciosa. A mononucleose é causada pelo Epstein-Barr vírus e se apresenta com febre, amigdalite purulenta, aumento de linfonodos na região posterior do pescoço (ao contrário da amigdalite bacteriana que apresenta aumento dos linfonodos da região anterior do pescoço), aumento do baço, perda de peso, cansaço extremo e sinais de hepatite. A prescrição de antibióticos como amoxacilina em doentes com mononucleose pode levar ao aparecimento de um rash cutâneo (manchas vermelhas espalhadas pelo corpo). Saiba mais em: (leia: MONONUCLEOSE - DOENÇA DO BEIJO ).

Se houver suspeita de faringite viral, o tratamento é repouso, hidratação e sintomáticos. Se o quadro sugerir faringite bacteriana, devemos iniciar antibióticos visando não só acelerar o processo de cura, mas também, a prevenção das complicações e a transmissão para outras pessoas da família. A transmissão só ocorre para pessoas com contato íntimo e prolongado. É mais comum entre crianças na creche ou na escola.

Entre as complicações das faringites bacterianas, a principal é a febre reumática. Causada pela bactéria Streptococcus, ocorre principalmente em jovens e crianças.

Outro tipo de faringite causada por bactérias é a Escarlatina (leia: ESCARLATINA). Apresenta-se como rash difuso e também pode levar a febre reumática (leia: FEBRE REUMÁTICA | Sintomas e tratamento)

A glomerulonefrite pós estreptocócica é uma lesão renal também causada pela mesma bactéria Streptococcus, que costuma cursar com hipertensão (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ), hematúria (leia: HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE)) e insuficiência renal aguda. (leia: ENTENDA A INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA ).

Existe uma tipo de psoríase, chamado de psoríase gutata que está relacionada a faringites pelo Streptococcus. (leia: PSORÍASE | Tipos e sintomas). São lesões de pele que surgem sempre que há uma infecção de garganta, desaparecendo após a sua cura.

Tratamento da amigdalite | Tratamento da faringite

Para se evitar as complicações acima, o tratamento com antibiótico deve ser feito até o final do tempo prescrito, mesmo que haja desaparecimento dos sintomas já nos primeiros dias. O tratamento se feito com derivados da penicilina deve ser feito por 10 dias. Nos pacientes alérgicos a penicilina, uma opção é Azitromicina por 5 dias. Naqueles doentes com intenso edema da faringe que não conseguem engolir comprimidos, ou naqueles que não desejam ficar tomando remédio por vários dias, uma opção é a injeção de penicilina Benzatina, o famoso Benzetacil, administrado em dose única.

Se os sintomas da faringite bacteriana forem muito fortes, enquanto espera-se o efeito dos antibióticos, pode-se usar anti-inflamatórios para aliviar a inflamação da garganta. Mas atenção, os anti-inflamatórios são apenas sintomáticos, nos casos de amigdalite bacteriana eles não devem ser usados sozinhos sem associação com antibióticos.

A faringites virais normalmente duram apenas 4 ou 5 dias e se curam sozinhas. Não é preciso, nem indicado, o uso de antibióticos. Se os sintomas forem muito incômodos, pode-se usar anti-inflamatórios por 2 ou 3 dias. De resto, repouso e boa hidratação.

Tratamentos alternativos:
  • Mel: Não há nenhum trabalho que tenha conseguido demonstrar benefício do mel
  • Própolis: Apresenta efeito anti-inflamatório pequeno. Funciona muito menos que qualquer anti-inflamatório comum.
  • Papaína: Além de não melhorar, em grandes quantidades pode piorar a inflamação
  • Não há trabalhos que provem a eficácia da homeopatia ou fitoterapia no tratamento das faringites. O tempo de doença e a incidência de complicações é igual ao placebo.
Quem quiser alívio sintomático sem tomar muitos remédios, o ideal é realizar vários gargarejos diários com água morna e uma pitada de sal.

A retirada das amígdalas (amigdalectomia) é uma opção nas crianças que apresentam mais de 6 episódios de faringite estreptocócica por ano. Como a incidência das complicações é muito menor em adultos, neste grupo a indicação de amigdalectomia é mais controversa. Existe ainda a possibilidade de não haver melhora pois as amigdalites passam a ser faringites, o que no final, dá no mesmo.

Em pacientes com infecções de garganta de repetição, podem-se formar criptas (pequenos buracos) nas amígdalas. Estas acumulam cáseo (ou caseum), uma substância amarelada, parecida com pus, que é na verdade restos celulares de processos inflamatórios antigos. O cáseo é a causa do mau hálito em pessoas com amigdalite/faringite crônica (leia: SAIBA COMO ACABAR COM O MAU HÁLITO).

Complemente as informações deste texto lendo também: DOR DE GARGANTA | Perguntas mais comuns

Este texto está com os comentários suspensos temporariamente. Procure saber se sua dúvida já foi respondida nas perguntas anteriores.

Cardiologia

Entenda o que é insuficiência cardíaca e quais as consequências de um coração grande e fraco.

O coração é um órgão composto basicamente por músculos, sendo responsável pelo bombeamento de sangue para todos os tecidos. Pode se dizer que é o motor do nosso corpo.

O coração tem 4 câmaras: o ventrículo e o átrio direito; o ventrículo e o átrio esquerdo. Os ventrículos são as cavidades maiores e mais musculosas, sendo as mais importante no bombeamento do sangue.

Para entender o que é a insuficiência cardíaca, é preciso primeiro saber como funciona o coração.

Vejamos um simples e rápido resumo. Acompanhe o texto e o desenho abaixo.

Os tecidos recebem o sangue de onde retiram o oxigênio. O sangue agora pobre em oxigênio volta para o coração pelas veias, chega no lado direito do coração, entra no átrio direito, depois no ventrículo direito e é finalmente bombeado para o pulmão. No pulmão o sangue volta a ficar rico em oxigênio. Esse sangue re-oxigenado vai para o lado esquerdo do coração, cai primeiro no átrio e depois no ventrículo esquerdo, de onde será bombeado de volta para os tecidos , reiniciando o ciclo.
Circulação sanguínea
Portanto, o coração direito é responsável pelo retorno do sangue para os pulmões e coração esquerdo pelo bombeamento de sangue para os tecidos.

A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração não consegue mais desempenhar uma ou ambas funções eficientemente. A insuficiência cardíaca pode então ser do coração esquerdo, direito ou de ambos. Os sintomas variam de acordo com a câmara do coração acometida. Explicarei mais a frente.

Mas como então surge a insuficiência cardíaca?

Como eu já disse, o coração é composto basicamente de músculos. A principal causa de insuficiência cardíaca é a isquemia cardíaca ou o infarto do miocárdio. Infarto significa morte tecidual, que no caso do coração se refere a parte do músculo cardíaco. Logo, quanto mais extenso for o infarto, mais músculo morrerá, consequentemente, mais fraco fica o coração. Se o infarto necrosar uma grande área, o paciente morre por falência da bomba cardíaca.

Outra causa comum de insuficiência cardíaca é a hipertensão não tratada (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ). Quando o paciente apresenta uma pressão arterial elevada, o coração precisa fazer mais força para vencer essa resistência e distribuir o sangue pelo corpo. Como todo músculo quando exposto a um estresse, a parede dos ventrículos começa a crescer e ficar mais forte. É a hipertrofia cardíaca. O que parece algo bom, na verdade é a fase precoce de uma insuficiência cardíaca. A hipertrofia do coração que ocorre na hipertensão é diferente daquela que ocorre nos atletas que possuem o coração mais forte.

Reparem na figura abaixo que o coração hipertrofiado pela hipertensão apresenta as paredes mais grossas e consequentemente menos espaço para o ventrículo se encher de sangue. Apesar de estar mais musculoso, o coração se enche menos e por isso bombeia menos sangue a cada batida (sístole). Essa é a fase de insuficiência cardíaca diastólica, ou seja, o coração não consegue se encher na diástole, período de relaxamento do coração que ocorre entre as sístoles (contrações cardíacas).

Coração hipertrofiado e coração dilatadoSe a hipertensão não for tratada, o coração continua a sofrer até o ponto em que não consegue mais se hipertrofiar. Imaginem um elástico que você puxa o tempo todo. Uma hora ele acaba por perder sua elasticidade e fica frouxo. É mais ou menos isso que ocorre com o coração. Depois de muito tempo sofrendo estresse o músculo cardíaco começa a se estirar e o coração fica dilatado.

Temos nesse momento um músculo que tem pouca capacidade de contração e um coração que já não consegue bombear o sangue adequadamente. O órgão se torna grande e insuficiente.

Como quem manda o sangue para o corpo é o ventrículo esquerdo, ele é quem mais sofre com as pressões arteriais elevadas. Quando realizamos um ecocardiograma o primeiro sinal de sofrimento cardíaco pela hipertensão é a hipertrofia do ventrículo esquerdo ou insuficiência cardíaca diastólica. Essa é a fase da insuficiência cardíaca que ainda tem cura se tratada.

RX normalRX ICCNas radiografias ao lado, podemos ver um coração normal à esquerda,  e um coração insuficiente e dilatado à direita.

Outra causa comum de insuficiência cardíaca são as doenças das válvulas do coração. Sempre que uma válvula cardíaca apresenta alguma alteração, seja congênita, ou adquirida durante a vida (endocardite, febre reumática, calcificação das válvulas, etc...), o coração começa a ter dificuldades em bombear o sangue, iniciando-se o processo de dilatação semelhante ao da hipertensão.

Existem várias outras doenças que causam insuficiência cardíaca, quase todas se encaixam em um dos exemplos acima de isquemia/lesão muscular/estresse cardíaco. São elas:
Quais são os sintomas da insuficiência cardíaca ?

Os sintomas da insuficiência cardíaca dependem da câmara mais afetada e da gravidade do quadro. A disfunção do coração é na maioria das vezes um quadro progressivo e lento.

A insuficiência do ventrículo esquerdo se manifesta com sintomas da baixo débito de sangue para o corpo. O principal é a fraqueza e o cansaço aos esforços. Nas fases avançadas da insuficiência cardíaca, o paciente pode se cansar com tarefas simples como tomar banho e pentear o cabelo.

Outro sintoma típico é a falta de ar ao deitar. A incapacidade de bombear o sangue para os tecidos, causa um acúmulo do mesmo nos pulmões. É como se fosse um congestionamento. O sangue que sai dos pulmões não consegue chegar eficientemente ao coração porque esse não consegue bombear o sangue que já se encontra dentro dele. Esse lentidão no fluxo pulmonar causa extravasamento chamado de congestão pulmonar. Em casos graves desenvolve-se o edema pulmonar (leia: INCHAÇOS E EDEMAS para entender como se formam os edemas). O edema do pulmão é uma urgência médica, onde o paciente literalmente se afoga fora d'água, podendo morrer se não receber tratamento a tempo.

Quando deitamos, o sangue que está nas pernas não sofre mais a resistência da gravidade e chega mais facilmente ao coração e pulmão. Se temos um coração esquerdo insuficiente e aumentamos a quantidade de sangue que chega ao pulmão, favorecemos a congestão pulmonar. Por isso, muitos doentes com insuficiência cardíaca não toleram ficar muito tempo deitado. Alguns precisam dormir com mais de 1 travesseiro para manter sempre o tronco mais alto que o resto do corpo. Chamamos esta fase de insuficiência cardíaca congestiva.

Quando o coração esquerdo começa a não conseguir bombear o sangue eficientemente para os órgãos, os rins interpretam isso como uma queda no volume de sangue do corpo e começam a reter água e sal para tentar encher as artérias. O resultado final é um excesso de água no organismo que se traduz com o aparecimento de edemas (inchaços), principalmente nas pernas.

O baixo débito de sangue para os órgãos pode levar insuficiência renal e hepática (fígado).

Se houver um insuficiência do coração direito associado, esses edemas são ainda maiores, pois além do excesso de água, o ventrículo direito não consegue fazer com que o sangue das pernas chegue aos pulmões. Ocorre então um grande represamento de sangue nos membros inferiores e grandes inchaços. Dependendo do grau de disfunção cardíaca, pode haver edemas até a barriga, chamado de ascite (leia: O QUE É UMA ASCITE? ).

A imagem típica da insuficiência cardíaca grave é a do doente com inchaços nas pernas, cansado mesmo em repouso, com tosse e expectoração esbranquiçada (congestão pulmonar) e intolerância ao decúbito (não consegue deitar).

Corações dilatados também apresentam distúrbios na condução elétrica e são mais susceptíveis a arritmias. Uma das consequências pode ser a morte súbita por fibrilação ventricular (arritmia maligna).

O tratamento é feito com restrição de sal e água, diuréticos, anti-hipertensivos (leia: TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO - Captopril, Enalapril, Losartan...) e medicamentos que aumentam a força cardíaca como a digoxina. Obesos devem emagrecer, fumantes têm que largar o cigarro, álcool deve ser evitado e exercícios supervisionados para reabilitação cardíaca são indicados. A pressão arterial deve ser controlada com rigor.

Nos casos terminais a única solução é o transplante cardíaco. Por isso, o melhor tratamento ainda é a prevenção.